
Apoie
31 de maio de 2023
A parceria entre Fagner e Belchior estreitou-se no início dos anos 1970, sobretudo por causa da canção Mucuripe, composta por Belchior e musicada por Fagner. Porém, a relação foi desmoronando com o tempo e as brigas eram constantes. As discussões eram sérias, “Briga mesmo, de porrada”, conforme comentou Fagner.
Belchior e Fagner juntos (Athayde dos Santos, 1982)
As causas são diversas. Fagner relatou algures que ambos tinham personalidade forte e que Belchior tinha inveja do seu sucesso emergente, causa das restrições e do bullying por parte do amigo.
"Ele (Belchior) tinha um medozinho de mim. Sabia que meu sonho ia longe e começou a me podar. Belchior foi a pessoa que mais fez bullying comigo"
(Fagner, apresentação de autobiografia)
Fagner também confessa ser “cabeça quente”, algo que contribuiu para arruinar a amizade. Era pavio curto e revidava qualquer coisa.
"Ele [Belchior] deixava na poesia. Eu ia para outro campo. Ele era bem preparado para esse confronto poético, esse diálogo crítico. Eu virei carne de leão. Abria a boca, vinha uma pancada."
(Fagner, Folha de São Paulo)
As brigas ganharam um lugar no folclore da MPB. Ainda hoje circula uma lenda de que ambos brigaram na casa de Amelinha por causa de um casaco. Tudo saiu do controle e teve até faca. A briga realmente aconteceu, mas sem lâminas. O que Fagner relata é que havia apenas uma tesoura em cima da mesa e ele a jogou pela janela para evitar uma tragédia. Este fato pontual foi fruto de uma tensão que perdurava há algum tempo.
“Foi uma briga sem arma. Quando eu vi uma tesoura em cima da mesa eu joguei fora pela janela.”
(Fagner, Conversa com Bial)
Fagner conta que após algum tempo Belchior foi procurá-lo buscando reaproximação e, cabeça dura que era, ele rejeitou. “Lamento por a gente não ter feito mais música. Fica a frustração”, confessa. Apesar das desavenças, o cantor faz questão de frisar sua admiração por Belchior, afinal, conviveram juntos por muito tempo no sul e Fagner jamais iria ao Rio de Janeiro sem ele.
"Foi o cara responsável por eu estar aqui. Não viria para o Rio sozinho, ele foi o meu tutor, minha família confiava nele. Fizemos cinco, seis músicas maravilhosas, nossa parceria tinha identidade."
Apoie